terça-feira, 4 de agosto de 2015

A chegada: um dia na estrada

Eu só fui me dar conta e perceber o que realmente estava acontecendo comigo e com a minha vida quando deixei o aeroporto e caminhei pela pista em direção ao avião. Aquele momento eu percebi que estava deixando pra trás muitas coisas e estava iniciando uma nova jornada da minha vida. Eu havia partido e agora aguardava ansiosamente pela chegada. E ela demorou. Sai de Florianópolis rumo a São Paulo na noite de uma sexta feira e mal sabia que passaria o sábado inteiro viajando até chegar ao meu destino. As novas aventuras e perrengues pelos quais iria passar já começavam naquele mesmo dia. Cheguei a São Paulo, aeroporto de Guarulhos, morrendo de medo de me perder, de não saber aonde ir, de perder o voo. Mas eu teria muitas horas até embarcar rumo a Portugal para evitar qualquer transtorno. Mas pela ansiedade, cheguei lá e já fui procurar meu portão de embarque e fiquei por lá até a hora tão aguardada. Por volta das 23h30min embarquei rumo a Lisboa, capital de Portugal, aproximadamente 10 horas de voo. Para minha primeira viagem de avião, sem contar o translado Floripa-São Paulo, é uma viagem e tanto, mas foi completamente tranquilo. Dormi praticamente a viagem inteira, pois a ansiedade não havia me deixado dormir na noite anterior e quando acordei já havia atravessado quase todo o Atlântico e estava chegando em terras portuguesas. Não senti nenhuma turbulência, como afirmam ser comum ao cruzar a linha do Equador. Para mim, foi uma viagem completamente tranquila, porém o dia só estava começando. Cheguei a Lisboa quase na hora do almoço, apesar de que estava completamente perdido devido à mudança de fuso-horário. Passei pela imigração, apresentei o passaporte e depois fui pegar minhas malas na esteira. Outro momento tenso pra muitos, mas não tive muitos problemas, minha mala estava bem marcada. Ainda tive que passar pelos seguranças e pela alfandega, onde tive que informar minhas intenções no país, e apresentar alguns documentos da universidade. Almocei no aeroporto mesmo, um lanche, só pra não passar fome na viagem.

 Primeira refeição portuguesa

Fiquei pouco tempo em Lisboa, nem pude sair do aeroporto e conhecer a capital, mas não me faltaria tempo nem oportunidade depois. Então embarquei no próximo voo rumo a Porto. Era meu terceiro avião em menos de 24 horas, lembrando que antes disso nunca havia entrando em um. Pelo jeito o futuro me reservara muitos e muitos voos, pra minha felicidade. Peguei um “teco-teco”, um avião minúsculo, ainda bem que a viagem era curta. Cheguei a Porto no meio na tarde, então fui procurar onde comprar o ticket do “comboio” (metrô de superfície ou apenas trem) para então seguir viagem rumo a Guimarães, mais ao norte de Portugal, onde seria meu Destino final. Mas antes devia pegar primeiro um comboio do aeroporto até a estação central de comboios de Porto em Campanhã. Cheguei 18h30min nesta estação e havia perdido o comboio de 18h25min. Pois é, por cinco minutos e o mais incrível e cruel é que o próximo seria só às 20 horas da noite. O dia ficava cada vez mais longo e cansativo e eu só queria chegar ao meu destino. A estação de Campanhã ficou deserta e completamente assustadora. Depois de tantos filmes de terror assistidos, estava ali me vendo dentro de um. Frio, medo, fome, arrependimento, tudo passando pela minha cabeça durante essas duas horas que tive que esperar ali sentado com todas as malas e sem nada pra fazer.

Estação de comboios Campanhã


Então, depois de tanta espera eu embarquei, ainda tinha mais uma hora de viagem até Guimarães e parecia uma eternidade. Cheguei por volta das 22 horas em Guimarães e ainda não tinha acabado, precisei pegar mais um taxi, que me enrolou, até me deixar na residência universitária, local onde ficaria hospedado durante todo o meu período em Guimarães. Por fim ainda precisei esperar o vigilante da residência para me entregar a chave e liberar meu quarto. Resumindo, passei o dia inteiro na estrada, como um verdadeiro nômade, mudando de um lugar a outro, seja por avião, teco-tecos, trem, comboio, carro, toda forma de transporte.  Estava me sentindo sujo, cansado, morrendo de fome, frio, sono, e tudo que eu queria era uma cama limpinha e bem quente para passar a noite e recuperar minhas energias, mas isso foi mais uma ironia daquele dia. O quarto estava todo bagunçado e sujo, a água do chuveiro só ficava quente por 5 minutos, não tinha papel no banheiro (e eu precisei, rsrs), não tinha comida e nem internet e assim iniciava minha aventura em Portugal.
A tal da cama limpinha e quente

terça-feira, 28 de julho de 2015

A Partida: hora de ir embora

Muito antes da partida meu coração já parecia estar partido. A ansiedade tomou conta de mim um dia antes da data em que eu partiria para o velho mundo, para o desconhecido, para uma nova aventura. Como era de se imaginar passei a noite “em claro”, não consegui dormir nem uma leve cochilada. Estava a algumas horas de embarcar pela primeira vez em um avião, atravessar o oceano Atlântico em busca de um grande sonho. Estava prestes a realiza-lo, junto com o maior desafio daquele ano de muitos que estariam por vir. Dia 10 de fevereiro de 2012, foi o dia que me despedi dos meus pais, dos meus familiares, dos meus amigos, do meu país, rumo a Portugal. Escrevendo aqui já me faz suspirar, bate uma nostalgia. Certamente que este dia entrou pra minha história e ficará lembrado para todo o sempre.  Lembro-me de iniciar o mês de fevereiro completamente agitado, contando os dias para a viagem. Postando quase todo dia algo referente à viagem no facebook. “Sexta feira deixo Floripa e parto para uma nova aventura, a primeira de muitas, 20 horas no aeroporto, para quem quiser dar um até logo... o/”. A poucos dias de partir, deixava essa mensagem no facebook. E um dia antes me despedia assim nas redes sociais: “Me despedindo aqui do "face", por uns tempos, amanha nova vida, novos caminhos, novos horizontes, pra lá, além do Atlântico ... Que dê tudo certo..” Fica claro que estava muito emotivo, me emociono só de lembrar, recebi muitas mensagens, muita energia positiva, muito carinho de diversas pessoas, me senti muito amado e muito querido por todos. Acredito ser, essa, umas das maiores vantagens de se partir e uma das poucas coisas boas de uma despedida. A despedida foi completamente dramática, um amigo veio durante a tarde para um abraço e um até logo, outros amigos junto com meus familiares me acompanharam até o aeroporto para muitos emoções. Eu nunca havia me despedido antes, eu nunca havia ficado muito tempo longe dos meus pais e da minha família, raramente dormia fora de casa então foi um momento muito emocionante com muitas lágrimas. É um sentimento angustiante e ao mesmo tempo animador e libertador. Fica-se triste por ir embora e ficar longe de pessoas queridas, mas ao mesmo tempo sente-se querido pela saudade deixada e é libertador porque se percebe que a vida segue.  Por caminhos diferentes, mas que o mundo realmente gira, e aquilo que parece ser um final pode ser também um começo. Você cria laços que jamais podem ser desfeitos e que a vida sempre proporciona uma forma para que tudo retorne ao ser verdadeiro lugar. Palavras sinceras, abraços confortantes e lágrimas já de saudades marcaram este dia. Havia chegado a hora e eu precisava ir embora. Minha mãe estava desesperada, estava entregando um filho pro mundo, eu estava desesperado, estava me jogando pro mundo. Muitas coisas pairavam na minha cabeça naquele momento, muitas dúvidas, incertezas, medos. As vezes só encontramos as respostas de fora, as vezes até só nos encontramos estando longe. As vezes precisamos apenas ir embora. E eu precisava ir..
Lembrei o dia em que partir quando li esse texto do Antônia no Divã: É preciso ir embora (Recomendo a leitura), que talvez seja um pensamento que passe pela cabeça de todos que foram ou estão indo embora.
 “– e também assim como eu – ela aprendeu que é preciso (e vai querer) muitas vezes uma certa distancia do ninho. Aprendeu que nem todo amor arrebatador é amor pra vida inteira. Que os amigos, aqueles de verdade, podem até estar longe, mas nunca distantes. Hoje ela chama o antigo exílio de lar, e adora pegar um avião rumo ao desconhecido. Outras, como eu, e como ela, fizeram o mesmo. Todas entenderam que era preciso ir embora.”

E naquele dia coloquei a mochila nas costas e fui embora.

terça-feira, 21 de julho de 2015

"Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir". Amyr Klink


Tudo tem um começo, e geralmente é a parte mais difícil. Dar o primeiro passo, sair do estático, começar. Comigo não foi diferente. O desejo de viajar sempre esteve anexado na minha alma, por natureza, por força maior, nasci com essa vontade louca de conhecer o mundo, desbravar, de aprender, de desvendar, de me aventurar. Talvez isso deva ser predestinado a cada um de nós e só faltava ser despertado em mim. Só restava chegar o momento certo. Não sei dizer pontualmente quando, como e de onde surgiu esta ideia, ou melhor, como ela foi despertada. Lembro-me de estar no meio da faculdade, que também ajudou muito nisso, pois foi na faculdade que comecei a fazer minhas primeiras viagens exploratórias, saídas de campo, viagens de estudos, conhecendo primeiro, toda Santa Catarina e depois alguns Estados vizinhos. Além disso, conheci alguns colegas que fizeram intercambio. Estava solteiro há mais de dois anos. O Destino é inexorável. Foi então que vi nessa combinação de fatores uma oportunidade, e aquilo que estava “dormindo” dentro de mim despertou, percebi que aquele era o momento perfeito, que havia chegado a minha hora. As coisas estavam alinhadas e prontas para acontecer. Foi então que eu dei o primeiro passo. Me inscrevi para um programa de intercambio de um convenio entre a UDESC e a Universidade do Minho, em Portugal, concorrendo a uma bolsa disputada por 4 cursos. Biblioteconomia, Geografia, História e Pedagogia. Ingresso: IA – Índice de Aproveitamento. Não ganhei a bolsa, mas o destino já estava escrito. Não desisti desse sonho, já tinha dado o primeiro passo e agora estava disposto a ir até o final. Procurei o setor responsável da UDESC e me informei se poderia ir sem bolsa, se o convenio era válido e se a UDESC me ajudaria na matrícula e nas questões burocráticas da instituição. Fiz meu passaporte (Dicas de como fazer passaporte em: Passaporte), fui atrás do visto, das passagens, de uma moradia, de conhecidos, de dicas, já estava completamente envolvido naquilo. Fiz tudo sozinho. Foi então que eu parti.



"Pra quem tem o sonho de conhecer simplesmente o mundo! Sinta-se à vontade."

terça-feira, 14 de julho de 2015

O que ficou...

“... O pra sempre, sempre acaba. Mas nada vai conseguir mudar o que ficou ...” Certamente a frase dessa música expressa alguns dos meus sentimentos neste momento.  Foram 161 dias longe de casa, dos familiares, dos amigos, do trabalho, do dia-a-dia, da minha cidade. Foram adicionados 2 continentes pro diário, 6 Países visitados, 21 cidades, muitas amizades construídas, vários momentos inesquecíveis, festas, bebidas, viagens, estudos, conflitos, comidas típicas e atípicas (entenda Mc Donalds), muitas experiências, desde dormir na rua com mendigos, bandidos e insanos, até dormir nas areias do deserto do Sahara. Muitos desafios que nunca imaginei superar e outros que nunca pensei me entregar. Me mostrei muito mais forte do que sonhei e em alguns momentos muito mais fraco do que imaginei. Muitos não acreditaram que eu conseguiria, muitos duvidaram e outros ficaram com medo, talvez nem eu tenha acreditado em mim, mas eu arrisquei. Enfim, momentos inesquecíveis, muitos sonhos realizados (destaco os mais difíceis) e muitas histórias para contar para as minhas próximas gerações. Medo, frio, fome, calor, suor, artimanhas, filas, voos perdidos, superações, bacalhau, batatas, gellatos, pizzas, cinco idiomas diferentes, muitas gírias incorporadas, muitas amizades duradouras, outras apenas momentâneas, tudo isso basicamente, resumem esses quase seis meses na Europa. Mas acabou, assim como tudo na vida passa, chegou a hora de dizer adeus e o que restarão são as lembranças que se eternizarão dentro da minha memória. Me sinto mais do que satisfeito, me sinto realizado e com a mente aberta para novos sonhos e novas aventuras. Eu li em algum lugar sobre uma teoria, uma teoria sobre momentos, momentos de impacto, assim como os átomos, que estão em constante reação colidindo uns nos outros. Esses momentos são como flashes de realidade que nos reviram e acabam definindo quem nós somos. O fato é que cada um de nós somos a soma dos momentos que já tivemos e de todas as pessoas que conhecemos ou que cruzamos, e são essas colisões, esses encontros e desencontros que traçam o nosso destino e se tornam a nossa história. Aprendi muito com as minhas viagens, aprendi a me equilibrar nos extremos, aprendi a ter calma, paciência e aprendi a dar valor para as coisas mais simples através dos olhos de uma criança.
Não importa onde uma viagem te leve, mas sim o que ela faz de você e com você, as experiências vividas e aquilo que realmente foi aprendido e absorvido. Assim uma viagem serve, antes de mais nada, para encontrar o lugar dentro de cada um de nós, à encontrar aquilo que mais buscamos. Se me perguntarem qual foi a minha melhor viagem? Londres foi alto nível, primeiro mundo, muito grandioso. Paris muito romântica, um ar mais agradável e elegante. Itália simplesmente sensacional, fabulosa, monumental, bela, alegre e divertida. Marrocos, certamente foi uma das viagens mais doidas, culturalmente, espiritualmente e visualmente, foi mágico, diferente e real, mas certamente essas não seriam a minha resposta.  Responderia: será a próxima! Porque sou um sonhador, sou um viajante, estou em constante formação e mudança, amadurecendo a cada encontro, a cada colisão, a cada lugar conhecido e aquilo que me move é intenso o suficiente para me fazer ir além.
A todos aqueles que me apoiaram nessa decisão, principalmente Mãe e Pai e parentes, a todos aqueles que sentiram minha falta, seja em casa, nas festas, na aula, no trabalho, na convivência, a todos os novos amigos formados, em cada lugar que eu estive, a todos que estiveram do meu lado não me deixando sentir sozinho, a todos aqueles que estiveram comigo em pensamentos e orações por onde quer que eu estivesse um MUITO OBRIGADO ETERNO  E DE CORAÇÃO. Deixo as portas da minha casa aberta para aqueles que desejarem me visitar ou que estiverem passando  pelo litoral sul Brasileiro e lembrarem de mim.


Goodbye, Hasta la próxima, Au revoir, Ciao, Adeusinho, وداعا. Até a próxima...