Muito antes da
partida meu coração já parecia estar partido. A ansiedade tomou conta de mim um
dia antes da data em que eu partiria para o velho mundo, para o desconhecido, para
uma nova aventura. Como era de se imaginar passei a noite “em claro”, não consegui
dormir nem uma leve cochilada. Estava a algumas horas de embarcar pela primeira
vez em um avião, atravessar o oceano Atlântico em busca de um grande sonho.
Estava prestes a realiza-lo, junto com o maior desafio daquele ano de muitos que estariam por vir. Dia 10 de fevereiro de 2012, foi o dia que me
despedi dos meus pais, dos meus familiares, dos meus amigos, do meu país, rumo
a Portugal. Escrevendo aqui já me faz suspirar, bate uma nostalgia. Certamente
que este dia entrou pra minha história e ficará lembrado para todo o
sempre. Lembro-me de iniciar o mês de
fevereiro completamente agitado, contando os dias para a viagem. Postando quase
todo dia algo referente à viagem no facebook. “Sexta feira deixo Floripa e
parto para uma nova aventura, a primeira de muitas, 20 horas no aeroporto, para
quem quiser dar um até logo... o/”. A poucos dias de partir, deixava
essa mensagem no facebook. E um dia antes me despedia assim nas redes sociais: “Me
despedindo aqui do "face", por uns tempos, amanha nova vida, novos
caminhos, novos horizontes, pra lá, além do Atlântico ... Que dê tudo certo..”
Fica claro que estava muito emotivo, me emociono só de lembrar, recebi muitas
mensagens, muita energia positiva, muito carinho de diversas pessoas, me senti
muito amado e muito querido por todos. Acredito ser, essa, umas das maiores
vantagens de se partir e uma das poucas coisas boas de uma despedida. A
despedida foi completamente dramática, um amigo veio durante a tarde para um
abraço e um até logo, outros amigos junto com meus familiares me acompanharam até o
aeroporto para muitos emoções. Eu nunca havia me despedido antes, eu nunca
havia ficado muito tempo longe dos meus pais e da minha família, raramente
dormia fora de casa então foi um momento muito emocionante com muitas lágrimas.
É um sentimento angustiante e ao mesmo tempo animador e libertador. Fica-se
triste por ir embora e ficar longe de pessoas queridas, mas ao mesmo tempo
sente-se querido pela saudade deixada e é libertador porque se percebe que a
vida segue. Por caminhos diferentes, mas
que o mundo realmente gira, e aquilo que parece ser um final pode ser também um
começo. Você cria laços que jamais podem ser desfeitos e que a vida sempre proporciona
uma forma para que tudo retorne ao ser verdadeiro lugar. Palavras sinceras,
abraços confortantes e lágrimas já de saudades marcaram este dia. Havia chegado
a hora e eu precisava ir embora. Minha mãe estava desesperada, estava
entregando um filho pro mundo, eu estava desesperado, estava me jogando pro
mundo. Muitas coisas pairavam na minha cabeça naquele momento, muitas dúvidas,
incertezas, medos. As vezes só encontramos as respostas de fora, as vezes até
só nos encontramos estando longe. As vezes precisamos apenas ir embora. E eu
precisava ir..
Lembrei o dia
em que partir quando li esse texto do Antônia no Divã: É preciso ir embora (Recomendo a leitura),
que talvez seja um pensamento que passe pela cabeça de todos que foram ou estão
indo embora.
“– e também assim como eu
– ela aprendeu que é preciso (e vai querer) muitas vezes uma certa
distancia do ninho. Aprendeu que nem todo amor arrebatador é amor pra vida
inteira. Que os amigos, aqueles de verdade, podem até estar longe, mas nunca
distantes. Hoje ela chama o antigo exílio de lar, e adora pegar um avião rumo
ao desconhecido. Outras, como eu, e como ela, fizeram o mesmo. Todas entenderam
que era preciso ir embora.”
E naquele dia
coloquei a mochila nas costas e fui embora.