Eu só fui me dar conta e perceber o que realmente estava
acontecendo comigo e com a minha vida quando deixei o aeroporto e caminhei pela
pista em direção ao avião. Aquele momento eu percebi que estava deixando pra
trás muitas coisas e estava iniciando uma nova jornada da minha vida. Eu havia
partido e agora aguardava ansiosamente pela chegada. E ela demorou. Sai de
Florianópolis rumo a São Paulo na noite de uma sexta feira e mal sabia que
passaria o sábado inteiro viajando até chegar ao meu destino. As novas
aventuras e perrengues pelos quais iria passar já começavam naquele mesmo dia.
Cheguei a São Paulo, aeroporto de Guarulhos, morrendo de medo de me perder, de
não saber aonde ir, de perder o voo. Mas eu teria muitas horas até embarcar
rumo a Portugal para evitar qualquer transtorno. Mas pela ansiedade, cheguei lá
e já fui procurar meu portão de embarque e fiquei por lá até a hora tão
aguardada. Por volta das 23h30min embarquei rumo a Lisboa, capital de Portugal,
aproximadamente 10 horas de voo. Para minha primeira viagem de avião, sem
contar o translado Floripa-São Paulo, é uma viagem e tanto, mas foi completamente
tranquilo. Dormi praticamente a viagem inteira, pois a ansiedade não havia me
deixado dormir na noite anterior e quando acordei já havia atravessado quase
todo o Atlântico e estava chegando em terras portuguesas. Não senti nenhuma
turbulência, como afirmam ser comum ao cruzar a linha do Equador. Para mim, foi
uma viagem completamente tranquila, porém o dia só estava começando. Cheguei a
Lisboa quase na hora do almoço, apesar de que estava completamente perdido
devido à mudança de fuso-horário. Passei pela imigração, apresentei o
passaporte e depois fui pegar minhas malas na esteira. Outro momento tenso pra
muitos, mas não tive muitos problemas, minha mala estava bem marcada. Ainda
tive que passar pelos seguranças e pela alfandega, onde tive que informar
minhas intenções no país, e apresentar alguns documentos da universidade. Almocei
no aeroporto mesmo, um lanche, só pra não passar fome na viagem.
Primeira refeição portuguesa
Fiquei pouco tempo em Lisboa, nem pude sair do aeroporto e
conhecer a capital, mas não me faltaria tempo nem oportunidade depois. Então
embarquei no próximo voo rumo a Porto. Era meu terceiro avião em menos de 24
horas, lembrando que antes disso nunca havia entrando em um. Pelo jeito o
futuro me reservara muitos e muitos voos, pra minha felicidade. Peguei um “teco-teco”,
um avião minúsculo, ainda bem que a viagem era curta. Cheguei a Porto no meio na
tarde, então fui procurar onde comprar o ticket do “comboio” (metrô de superfície
ou apenas trem) para então seguir viagem rumo a Guimarães, mais ao norte de
Portugal, onde seria meu Destino final. Mas antes devia pegar primeiro um
comboio do aeroporto até a estação central de comboios de Porto em Campanhã.
Cheguei 18h30min nesta estação e havia perdido o comboio de 18h25min. Pois é,
por cinco minutos e o mais incrível e cruel é que o próximo seria só às 20
horas da noite. O dia ficava cada vez mais longo e cansativo e eu só queria
chegar ao meu destino. A estação de Campanhã ficou deserta e completamente
assustadora. Depois de tantos filmes de terror assistidos, estava ali me vendo
dentro de um. Frio, medo, fome, arrependimento, tudo passando pela minha cabeça
durante essas duas horas que tive que esperar ali sentado com todas as malas e
sem nada pra fazer.
Estação de comboios Campanhã
Então, depois de tanta espera eu embarquei, ainda tinha mais
uma hora de viagem até Guimarães e parecia uma eternidade. Cheguei por volta
das 22 horas em Guimarães e ainda não tinha acabado, precisei pegar mais um
taxi, que me enrolou, até me deixar na residência universitária, local onde
ficaria hospedado durante todo o meu período em Guimarães. Por fim ainda
precisei esperar o vigilante da residência para me entregar a chave e liberar
meu quarto. Resumindo, passei o dia inteiro na estrada, como um verdadeiro nômade,
mudando de um lugar a outro, seja por avião, teco-tecos, trem, comboio, carro,
toda forma de transporte. Estava me
sentindo sujo, cansado, morrendo de fome, frio, sono, e tudo que eu queria era
uma cama limpinha e bem quente para passar a noite e recuperar minhas energias,
mas isso foi mais uma ironia daquele dia. O quarto estava todo bagunçado e
sujo, a água do chuveiro só ficava quente por 5 minutos, não tinha papel no
banheiro (e eu precisei, rsrs), não tinha comida e nem internet e assim
iniciava minha aventura em Portugal.
A tal da cama limpinha e quente